Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O ministro Fernando Haddad
(Fazenda) disse nesta terça-feira (16) que vai se reunir ainda nesta semana com
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a cúpula da Câmara dos Deputados
para tentar um acordo em torno da desoneração da folha de pagamento de empresas
de 17 setores e das prefeituras.
O encontro com o chefe do
Executivo está previsto para esta quarta-feira (17). Já a reunião com o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deve ocorrer até o fim da semana.
O ministro intensificou as
negociações após a edição de uma MP (medida provisória) restringindo os
incentivos nos últimos dias de 2023, em pleno recesso legislativo, ter
deflagrado a reação contrária de entidades empresariais e parlamentares.
"Eu tenho uma reunião com o
presidente Lula amanhã [quarta] para verificar como é que nós vamos encaminhar,
porque há um compromisso nosso desde o ano passado de que nós vamos sentar com
as representações municipalistas para encontrar um caminho que caiba no
Orçamento para que não haja problema de execução", disse Haddad.
"Nós estamos também
discutindo a questão formal [da MP], a questão de mérito e a questão formal. Eu
fiquei de conversar com o presidente Lula, devo fazê-lo amanhã, e devo
conversar com o presidente Lira, do qual dependem algumas decisões importantes",
acrescentou.
O ministro da Fazenda disse que
não poderia antecipar nenhuma decisão sobre a possibilidade de o governo
eventualmente retirar ou revogar a MP e propor conteúdo similar via projeto de
lei, que tem um prazo de tramitação mais flexível para os parlamentares.
Ele afirmou, porém, que já vem
colhendo percepções e argumentos apresentados pelos congressistas, que serão
levados a Lula para que haja um encaminhamento.
Na segunda-feira (15), ele se
reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que também
apresentou um prognóstico sobre a "temperatura" das quatro
proposições incluídas na MP.
Além da reoneração gradual da
folha dos 17 setores, até a volta da cobrança integral em 2028, e da revogação
do corte da alíquota patronal sobre a folha dos municípios, a medida busca
acabar com os benefícios tributários do Perse (Programa Emergencial de Retomada
do Setor de Eventos) e limitar o uso das compensações tributárias a partir de
créditos obtidos via decisões judiciais.
Segundo Haddad, novos cálculos
da Fazenda indicam um impacto conjunto de R$ 32 bilhões, dos quais R$ 16
bilhões são do Perse, R$ 12 bilhões da desoneração da folha das empresas e R$ 4
bilhões referentes ao corte das alíquotas dos municípios.
O argumento do governo é que a
recuperação dessas receitas é necessária para garantir o equilíbrio do
Orçamento de 2024.
Como mostrou a Folha, a equipe
econômica tenta costurar um acordo sobre a desoneração da folha de pagamento de
17 setores que contemple uma transição mais longa para encerrar o benefício e
medidas alternativas para compensar eventuais perdas de arrecadação.
A negociação é uma tentativa do
governo de evitar uma derrota maior nessa frente. No entanto, mesmo esse modelo
enfrenta resistências dos parlamentares.
O benefício da desoneração da
folha foi criado em 2011, no governo Dilma Rousseff (PT), e prorrogado
sucessivas vezes. A medida permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre
a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência.
A desoneração vale para 17
setores da economia. Entre eles está o de comunicação, no qual se insere o
Grupo Folha, empresa que edita a Folha. Também são contemplados os segmentos de
calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, empresas de
construção e obras de infraestrutura, entre outros.
O Congresso aprovou a extensão
do benefício até o fim de 2027. A lei foi vetada por Lula, mas os parlamentares
votaram para restabelecer a validade de seu conteúdo.
A MP do governo propõe revogar a
lei, com efeitos a partir de 1º de abril. Um grupo de 17 atividades passaria a
pagar alíquota de 10% sobre a remuneração dos funcionários até um salário
mínimo (hoje em R$ 1.412) e 20% sobre o que exceder essa faixa.
Para outras 25 atividades, a
contribuição patronal seria de 15% sobre o piso e 20% sobre a remuneração
excedente. Nesse grupo de atividades inclui-se edição de jornais.
No Legislativo, a publicação da
MP foi vista como uma afronta à decisão do plenário da Câmara e do Senado. Por
isso, lideranças defendem a devolução da MP, um gesto extremo que simbolizaria
a rejeição sumária da proposta, antes mesmo de qualquer apreciação.
O Executivo, por sua vez,
argumenta que é preciso dar um encaminhamento definitivo à questão da
desoneração, uma vez que a mera prorrogação do benefício, como querem os
parlamentares, deixa a porta aberta para novas extensões no futuro -a exemplo
das sucessivas renovações do incentivo tributário nos últimos anos.