Foto: Zeca
Ribeiro / Câmara dos Deputados
A Câmara
aprovou nesta sexta-feira (15) a proposta de reforma tributária, uma das
principais pautas da agenda econômica do governo Lula (PT), com alguns trechos
incluídos pelo Senado. Agora os deputados analisam destaques que podem alterar
o texto final.
A proposta
foi aprovada com boa margem de folga no primeiro turno, 371 favoráveis e 121
contrários, e também no segundo turno, 365 a 118. Eram necessários ao menos 308
votos. Após a conclusão da votação, o texto será promulgado em sessão do
Congresso Nacional, na próxima semana.
Esta foi a
segunda vez que os deputados analisaram o texto. Isso porque, em votação no mês
passado, senadores alteraram o conteúdo da reforma. Por isso, a Câmara teve que
apreciar novamente o projeto.
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, foi o responsável por negociar a reforma com o
Congresso. Ele articou com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), um texto em comum, junto com os
relatores das duas Casas.
Lira foi o
principal fiador da proposta e trabalhou para votar o texto nesta semana. Para
conseguir quórum, convocou sessão semipresencial com desconto no salário de
quem não votasse.
Vitória do
governo Lula e momento histórico. A reforma tributária é discutida há cerca de
30 anos, sem ter avançado no Congresso Nacional durante os governos anteriores.
O sistema atual foi criado na década de 1960.
Reforma
será concluída só em 2033. Até lá há um período de transição e de
regulamentação de diversos trechos. O Executivo terá até 180 dias a partir da
promulgação para enviar os projetos de lei complementar que regulamentarão a
reforma.
O relator
da medida na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), retirou da proposta alguns
dispositivos que foram aprovados pelo Senado. O texto final votado teve acordo
entre as duas Casas.
Entre as
principais alterações, foi retirado do texto um dos modelos de cesta básica
aprovado pelos senadores. A "cesta básica estendida" previa produtos
com alíquota reduzida em 60% e com cashback obrigatório.
A proposta
estabelece apenas a "cesta básica nacional" com isenção de imposto.
De acordo com o texto, os produtos que compõem a cesta serão definidos em
projeto de lei complementar.
O relator
manteve a inclusão de um cashback obrigatório — ou seja, a devolução do imposto
pago pelo consumidor — para famílias de baixa renda na compra do gás de
botijão. Os senadores já tinham incluído o reembolso sobre a conta de luz.
Os
deputados aprovaram um destaque, por 324 a 142, que iguala o salário de
auditores municipais e estaduais ao de ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal). A sugestão foi feita pelo bloco MDB, PSD, Republicanos e Podemos. A
remuneração dos magistrados é de R$ 41.650,92.
Outra
mudança feita na Câmara excluiu cinco setores no regime específico da reforma,
que terão regras próprias de tributação. Na prática, eles serão tributados no
novo modelo de imposto. São esses:
- serviços de saneamento
e de concessão de rodovias;
- serviços de transporte
aéreo;
- operações que envolvam
a disponibilização da estrutura compartilhada dos serviços de
telecomunicações;
- bens e serviços que
promovam a economia circular;
- operações com
microgeração e minigeração distribuída de energia elétrica.
O relator
decidiu manter a prorrogação dos incentivos fiscais às montadoras do Norte, do
Nordeste e do Centro-Oeste. Pelo texto, o benefício servirá para veículos
elétricos ou híbridos que utilizem etanol, além de carros flex -- que utilizam
gasolina e etanol.
O texto
desagradou os outros estados e, para tentar derrubá-lo, o PL e partidos do
Centrão apresentaram alguns destaques. Os deputados derrubaram dois trechos que
permitiam incentivos tributários para produção de peças para veículos elétricos
e com motor de combustão interna.
O relatório
manteve o IPI (Imposto de Produtos Industrializados) para produtos similares
aos da Zona Franca de Manaus e fixou uma alíquota zero em 2027 para os itens
que não tenham industrialização incentivada na região.
Foi tirado
também a Cide, um imposto para tributar os produtos de outras regiões do país
que concorrem com os itens produzidos na Zona Franca de Manaus, que havia sido
incluído por senadores. A retirada do Cide era uma demanda dos deputados, que
enfrentavam resistência do relator no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM).