Carvão ativado, hibisco, babosa, cúrcuma, ivermectina. Todos esses compostos são bem conhecidos pelos brasileiros e conectados por uma grande força em comum: a promessa de curar todos os males em poucos frascos e/ou comprimidos.
Além de ligados pela esperança, eles também têm compatibilidade em serem técnicas sem eficácia comprovada. Isso mesmo, a infestação de tratamentos alternativos receitada pelo seu médico de confiança ou por aquele influenciador que você acompanha, na grande - e esmagadora - maioria das vezes, se respalda em poucos e fracos estudos científicos.
Não à toa surgem de maneira avassaladora e vão embora na mesma medida, dando lugar a um novo componente da série de “cura do câncer” que roda nos grupos de Whatsapp. Ao Jornal Metropole, o hepatologista Raymundo Paraná revela que o resultado dessas receitas e promessas aos pacientes têm contribuído para o surgimento de doenças hematológicas, neurológicas e cardíacas. Esses quadros decorrentes do uso de diversos fitoterápicos geralmente são causados pela ingestão inadequada de grande quantidade de hormônio ou pela utilização de substâncias cujo o efeito adverso é a perda de apetite ou de peso, como os famosos chás emagrecedores.
Entre as enfermidades que bombardeiam o organismo após essas ingestões, há destaque para a esclerose hepatoportal ou distúrbio porto-sinusoidal, caracterizado pela obstrução de veias do fígado. Um estudo chinês publicado no dia 30 de outubro deste ano, no ACG Reports, apontou o caso de uma paciente de 81 anos que desenvolveu a doença após tomar um suplemento de ervas tradicionais chinesas, conhecido como Cordyceps. O uso teria sido feito diariamente durante cinco anos para tratar síndrome do intestino irritável. Seis meses após a suspensão da medicação, a mulher apresentou melhora no quadro apresentado.
"Terra de ninguém"
O uso global e massivo das redes sociais tornou ainda mais potente a disseminação desses tratamentos. Há sempre um influenciador ao lado de um suposto médico para apresentar uma técnica ou produto que será a resolução de todos os problemas. A questão torna-se pior quando feita através da conhecida publicidade médica, ou seja, o próprio profissional é influenciador digital e promove tratamentos não comprovados.
“As redes sociais se tornaram uma espécie de ‘terra de ninguém’, onde as pessoas plantam seus conceitos e lucram com eles. Isso faz com que tenhamos modismos que têm em comum a ausência de documentação científica robusta. As documentações científicas, que são normalmente postas, são pífias”, explicou Paraná.
O que diz o Cremeb
Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia, o órgão tem recebido denúncias a respeito de profissionais que divulgam tratamentos e técnicas sem respaldo científico.
“Há vários processos, sejam eles no estágio de denúncia, sejam eles processos éticos profissionais, já há casos de profissionais que foram julgados e punidos”, afirmou ao Jornal Metropole.
Quando há recebimento de denúncias, é aberta, segundo Marambaia, uma sindicância e o médico é chamado para justificar a prescrição dos tratamentos. Em casos de comprovação da prática de divulgação, um processo é aberto contra o profissional.
Para reportar médicos ao Conselho, é preciso comparecer à sede da instituição, à uma delegacia ou utilizar um formulário disponível no site. Procure, busque, pesquise e se esquive para que a porta do consultório não lhe traga mais problemas do que soluções.
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