Era 1º de fevereiro de 2017 quando o império de Marcelo Nilo (na época PSL, hoje Republicanos) ruiu. Depois de 10 anos comandando a Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Nilo viu o poder escorrer pelas mãos e o seu adversário Angelo Coronel (PSD) ser eleito o novo presidente da Casa. Essa história começou bem antes e tem reflexos ainda hoje.

Um ano depois de ser reeleito deputado estadual, Nilo assegurou seu quinto mandato como presidente da AL-BA e quis abrir espaço para mais um, o sexto. A vontade, entretanto, esbarrou na falta de apoio do governo petista. Até então um parlamentar com pouca expressividade, Angelo Coronel conseguiu angariar o apoio da bancada da oposição, e conquistou um a um os aliados de Nilo, que acabou renunciando à candidatura.

Com 57 votos dos 63, o hoje senador chegou à presidência da AL-BA comprometendo-se a pôr fim à prática da reeleição na Casa, uma promessa cumprida. Naquele ano, a AL-BA aprovou o fim da recondução ao comando do Legislativo baiano. Agora, seis anos depois, parlamentares se mobilizam para restaurar a possibilidade de reeleição.

Se a proposta for aprovada, isso pavimenta o caminho para um terceiro mandato de Adolfo Menezes (PSD). A ironia reside no fato de que a PEC que proibiu a recondução saiu das mãos do próprio Adolfo Menezes em 2017. Um levantamento feito pelo Metro1 aponta que 27 deputados que foram contra a reeleição em 2017 estão atualmente na Casa. Deste total, 18 mudaram o posicionamento e agora são favoráveis. Entre eles, o líder da oposição, Alan Sanches, do União Brasil.

A proposta ainda não tem nada para ir a plenário. Ela precisaria de 39 votos para ser aprovada e já tem apoio de 47 deputados. Dois, no entanto, são certamente contrários: Rosemberg Pinto (PT) e Ivana Bastos (PSD), prováveis candidatos à presidência da Casa. Em entrevista à Rádio Metropole, o petista alegou que o projeto viola a Constituição Federal e questionou a perpetuação de poder.

“Se depender de mim, do ponto de vista pessoal, ele [Adolfo Menezes] seria reeleito 50 vezes seguidas. Qual é o problema? O problema não é gostar ou não gostar do presidente. O que está por trás é a alternância de poder. A questão é: queremos a alternância de poder? Ou deixamos que o poder se perpetue? Esse é o debate que está por trás”, afirmou.

Apesar de negar o mal-estar com o atual presidente, Rosemberg ficou furioso quando soube da PEC da Reeleição. Isso porque, com a máquina na mão, Adolfo será o favorito se puder concorrer mais uma vez. E ele admitiu, na Metropole, que pode se candidatar “se a maioria quiser”. Já Ivana Bastos, por enquanto, tem evitado falar publicamente sobre a eleição na AL-BA, mas já conta com o apoio público do presidente do PSD na Bahia, o senador Otto Alencar, que se posicionou contra a PEC da Reeleição.

O novo presidente da Assembleia só será definido em fevereiro de 2025, mas os ânimos estão acirrados e têm uma explicação. O comandante do Legislativo baiano tem em suas mãos um orçamento de quase R$ 900 milhões. Além disso, uma influência política capaz de interferir nas decisões do estado.


Foto: Vaner Casaes/AL-BA

Por: Júlia Lordelo e Rodrigo Daniel Silva no dia 07 de dezembro de 2023 às 00:00