A psiquiatra, psicanalista e coordenadora do Núcleo de Prevenção ao Suicídio, Soraya Carvalho apontou que a campanha do Setembro Amarelo, pela prevenção do suicídio, tem registrado um efeito reverso, apresentando números opostos ao proposto.


Segundo a pesquisadora, após o início da campanha, no ano de 2014, os casos de suicídio aumentaram de maneira significativa entre os meses de setembro e outubro. A declaração foi feita no programa Jornal da Bahia no Ar, na Rádio Metropole, nesta sexta-feira (20). 


Soraya acredita que o hiperfoco no tema prejudica o estado psicológico das pessoas, desde as que cogitam suicidar, até as pessoas que tiveram casos de suicídio próximos, como parentes ou amigos, chamados de sobreviventes enlutados. 


“Fiz uma pesquisa de 2010 a 2020 no Brasil e até 2022 na Bahia, onde identifiquei que a partir do setembro amarelo aumentaram os índices de suicidio em setembro e outubro. Ora, se existe uma campanha desse porte, em um país de tamanho continental, a campanha já se tornou continental. E o que acontece? Por que se fala o mês inteiro nisso? Imagine quem está pensando em se matar ouvir o tempo inteiro sobre suicídio. Um sobrevivente enlutado não pode entrar na internet, na televisão, porque só se fala em suicídio e revive tudo. Qualquer campanha de suicídio, o objetivo geral é diminuir os casos. E esse objetivo não está rolando”, disse. 


Para a especialista, os objetivos da campanha têm passado por uma inversão, onde o geral, que seria evitar e prevenir o suicídio, dá local à meta de conscientização sobre o tema, que é secundário. Apesar da redução do estigma sobre o assunto ser de extrema importância, o aumento do número não pode ser ignorado.


“A gente assinou uma carta se comprometendo a reduzir em 10% o número de suicídio até 2020, a gente aumentou, estamos na contramão do mundo, o mundo diminuindo e a gente aumentando. O Brasil está no 8º lugar do ranking, Salvador em 6º, entre crianças de 9 a jovens de 19 anos [...] A gente deve muito ao Setembro Amarelo porque levou o tema para dentro dos lares, escolas, hoje se fala de uma maneira mais simples, mas os números estão aumentando e não se faz nada sobre isso? Apenas falar? E as ações?”, completou.


Confira a entrevista na íntegra: