
Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil
A Bahia registrou 1.636 denúncias de estupro de vulnerável,
direcionado a crianças e jovens, no ano de 2024. É o que apontam os dados da
Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, canal do Ministério dos Direitos
Humanos e da Cidadania (MDHC), registrados a partir das denúncias do Disque
100. No entanto, os números da Secretária de Segurança Pública (SSP-BA)
contabilizam apenas 31,9% do número divulgado pelo Ministério.
O Painel indica que foram gerados 967 protocolos de denúncias
relacionadas a violência sexual infantojuvenil. É por meio dos protocolos que
as denúncias são contabilizadas, já que em um protocolo pode haver mais de uma
denúncia.
No mês em que ocorre a campanha do Maio Laranja, em combate
ao abuso e à exploração sexual infantil no Brasil, a Polícia Civil informou ao
Bahia Notícias que foram registrados 522 casos de estupro contra crianças e
jovens entre 0 a 17 anos no estado em 2024. Conforme os dados, as principais
vítimas são as crianças de 12 a 17, que foram alvos de 448 casos
registrados no ano passado; e 74 casos contabilizados contra crianças
de 0 a 11 anos.
Os números apontam para um cenário alarmante de
subnotificação deste tipo de violência, que podem ser explicado por dois
recortes de análise: o cenário da violência e o perfil dos suspeitos. Mais da
metade dos casos, cerca de 834 deles (50,9%), ocorreu na casa “onde a vítima e
o suspeito residem”, indicando um contexto familiar de violência sexual. Outros
280 ocorrem na casa da vítima e 267 na casa do suspeito.
Os dados do Painel não registram os possíveis vínculos
prévios entre a vítima e o suspeitos. Na análise de perfil dos suspeitos deste
tipo de crime, homens são os principais suspeitos, registrados em 61,8% dos
casos, enquanto mulheres são as agressoras em 32,9% das denúncias. Os suspeitos
têm, em sua maioria, uma idade entre 33 e 44 anos.
EDUCAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS
A educação sexual é uma das diretrizes do Plano Nacional de
Prevenção Primária do Risco Sexual Precoce e Gravidez na Adolescência desde
2022. Conforme a cartilha oficial do Ministério da Saúde (confira
aqui), este tipo de conteúdo consiste em um “processo de ensino,
esclarecimento, aprendizado e diálogo que pode ocorrer em para que a criança, o
adolescente e o jovem possam aprender e discutir sobre a saúde nas práticas
sexuais, relacionamentos, afetos, diversidade sexual, gênero, reprodução, entre
outros assuntos”.
Ao contrário do que muitos pensam, um relatório da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, em
português), publicado em 2019 e baseado em 87 estudos de todo o mundo (confira aqui),
indica que a abordagem da educação sexual nas escolas não resultou em uma
antecipação da iniciação sexual de crianças e adolescentes.
O Bahia Notícias conversou com o pedagogo Manoel Calazans,
assessor especial da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) para falar
sobre o acolhimento de denúncias de abuso e exploração sexual infantojuvenis
que chegam às escolas baianas.
“É um tema que exige muito cuidado da gente, principalmente
de quem é educador, de quem trabalha em escola, porque, muitas vezes, o
primeiro local onde a criança, adolescente, ou jovem relata qualquer caso
de abuso é na escola. Então, a escola precisa ser muito atenta, sensível a
essas situações e saber a quem recorrer”, é o que afirma o gestor.
“O nosso trabalho com a Secretaria de Educação é de
orientação, então a gente passa toda essa orientação aos gestores das escolas,
sempre nas datas, a gente reforça isso junto aos diretores, nas publicações da
secretaria, no nosso regimento. Então, a gente faz isso de forma muito
sistêmica. Todo gestor de escola, ele é o tempo todo alertado pela secretaria a
ter um posicionamento proativo em relação a qualquer tipo de abuso ou
exploração sexual de criança e de adolescente”, destacou Calazans.
O alinhamento evita que os profissionais da educação sejam
sobrecarregados com mais funções além da gestão acadêmica e operacional das
escolas. Manoel explica que, para as escolas estaduais baianas, que abrangem
principalmente o ensino médio para jovens entre 14 e 17 anos, é importante
contar com uma rede de apoio da sociedade civil.
“A gente orienta os diretores das escolas e os diretores, por
tabela, acabam orientando os professores e coordenadores pedagógicos em relação
à questão do acolhimento, primeiro. Esse acolhimento, ele não pode ser um
único profissional assumir isso, isso é uma questão de gestão da própria
escola”, diz o professor Manoel. “Então, o diretor escuta o relato por parte do
profissional que ouviu, que teve o primeiro relato e aí encaminha para os
conselhos tutelares, que agem de uma forma mais sistêmica para acionar o
Ministério Público e as varas da infância”, explica.
Com relação à educação sexual nas escolas, o professor relata
que a abordagem é incluída nos estudos de sociologia e biologia, por exemplo,
mantendo as características da base curricular.
“A gente já tem uma nova abordagem para essa situação, que é
uma abordagem mais curricular, que é quando a gente usa a questão, é,
sexualidade, gênero, diversidade sexual como eixo transversal, aparece nas
nossas diretrizes como eixo. A gente trabalha como conteúdo”, conta. “Mas mesmo
assim, a gente também tem orientação para qualquer tipo de violação, o diretor
é preparado para acionar a rede de proteção imediatamente”, detalha.
“Inclusive nós temos um grupo de psicólogos e assistentes
sociais que estão distribuídos em todos os núcleos da rede. Esse grupo vai à
escola, o assistente social e o psicólogo, faz a orientação emergencial quando,
por exemplo, tem uma situação de uma denúncia feita por um estudante ao
professor”, conclui.
Por Bahia Notícias