
Ministros
durante coletiva nesta quarta (23) Crédito: Antonio Cruz/ Agência
Brasil
A Polícia
Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram, nesta
quarta-feira (23), a Operação Sem Desconto para aprofundar as investigações
sobre um esquema de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os
investigadores que apuram as suspeitas de irregularidades calculam que, só
entre 2019 e 2024, as organizações da sociedade civil autorizadas a cobrar a
chamada mensalidade associativa movimentaram cerca de R$ 6,3 bilhões. Parte
deste montante pode ter sido deduzida ilegalmente dos benefícios pagos a
aposentados e pensionistas por um grupo de ao menos 11 entidades que são alvo
da operação deflagrada pela manhã.
Em
entrevista coletiva para tratar da operação, os ministros da Justiça e
Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, da Previdência Social, Carlos Lupi, e
da Controladoria-Geral da União, Vinicius de Carvalho, foram unânimes ao
afirmar que os valores descontados ilegalmente deverão ser, em algum momento,
restituídos aos prejudicados. Nenhum deles, contudo, arriscou uma data para que
os eventuais prejudicados sejam ressarcidos.
“Cada caso
terá que ser examinado individualmente. Obviamente, mediante requisição,
apuração interna, esse dinheiro, um dia, terá que ser restituído para aqueles
dos quais foi retirado indevidamente”, disse o ministro Ricardo Lewandowski.
“Quanto à
questão da devolução [dos valores deduzidos ilegalmente dos benefícios], cada
caso é um caso. Vamos aguardar pelo desfecho desta operação para, depois,
vermos as atitudes cabíveis”, reforçou Carlos Lupi.
Os ministros
anunciaram ainda a suspensão, a partir desta quarta, de todos os acordos de
cooperação técnica que o INSS assinou com organizações da sociedade civil,
autorizando-as a cobrar mensalidades associativas de aposentados e
pensionistas. A medida foi mais dura que a decisão inicial da Justiça Federal,
que determinou a suspensão dos contratos firmados com nove das 11 entidades -
alvo da Operação Sem Desconto – além do afastamento cautelar de seis
servidores públicos, incluindo o então presidente do INSS, Alessandro
Stefanutto, e autorizou o cumprimento de 211 mandados de busca e apreensão e de
seis prisões temporárias.
“Para além
da decisão judicial, que suspendeu os descontos para nove dessas entidades,
estamos suspendendo os acordos de cooperação técnica de todas as demais
organizações associativas”, disse o ministro da CGU, revelando que, atualmente,
cerca de 3 milhões de beneficiários do INSS têm algum valor
deduzido de suas aposentadorias e pensões a título de desconto
associativo.
Para
Carvalho, a suspensão de todos os acordos e, consequentemente, das deduções de
qualquer valor, servirá como um “freio de arrumação” no sistema de parcerias
entre o INSS e as organizações da sociedade civil, permitindo que o governo
identifique a quantidade exata de pessoas eventualmente prejudicadas
pelo esquema.
“A
necessidade de fazermos um freio de arrumação para sabermos exatamente quem
quer e quem não quer ter o desconto, quem quer se associar [a uma entidade] e
quem não quer, é uma etapa necessária e importante para separarmos o joio do
trigo e sabermos do que estamos falando em termos de aposentados e aposentadas
que sofreram descontos indevidos”, comentou o ministro da CGU, destacando que
os descontos ocorrem há tempos, com cifras crescentes.
“Em 2016,
foram R$ 413 milhões; em 2017, R$ 460 milhões; em 2018, R$ 617 milhões; em
2019, R$ 604 milhões. Em 2020, em meio à pandemia da covid-19, o valor caiu
para R$ 510 milhões. Em 2021 foram descontados R$ 536 milhões. Em 2022, R$ 706
milhões. Em 2023, R$ 1,2 bilhão. E, no ano passado, R$ 2,8 bilhões”, detalhou
Carvalho.
“Mas seria
precipitado dizer que todo este montante é ilegal; que 100% dos aposentados
[que pagam o desconto associativo] tiveram seus consentimentos fraudados”,
completou o ministro da CGU. “Estas pessoas, obviamente, merecem um
ressarcimento. [Para isso] a Justiça bloqueou bens, valores muito
razoáveis [que superam R$ 1 bilhão]. Mas tudo isso terá que ser discutido no
Judiciário para garantirmos que quem foi cobrado indevidamente possa ser
devidamente ressarcido.”
Descontos
A
mensalidade associativa é uma contribuição que aposentados, pensionistas ou
pessoas de uma determinada categoria profissional pagam, periodicamente, para
fazer parte de uma associação, sindicato ou entidade de classe sem fins
lucrativos que represente os interesses de seus membros do Regime Geral da
Previdência Social (RGPS).
Entre
janeiro de 2023 e maio de 2024, o INSS recebeu 1 milhão de reclamações acerca
de descontos indevidos, motivando o cancelamento dos descontos autodeclarados
como não autorizados. Além disso, em março do ano passado, o instituto
estabeleceu novas regras para regulamentar o desconto associativo.
Assinada
por Alessandro Stefanutto, a Instrução Normativa Pres/INSS nº 162
estabelece o percentual máximo da dedução e que o desconto deve ser previamente
autorizado pelo aposentado ou pensionista, que tem de assinar um termo de
adesão.
O
beneficiário que não reconhecer o desconto da mensalidade associativa em seu
benefício pode requerer a exclusão da cobrança usando o aplicativo do
instituto, o site Meu INSS ou a central telefônica 135. Também é possível pedir
o bloqueio temporário da cobrança.
O aposentado
ou pensionista que não tenha autorizado os descontos também pode solicitar o
estorno de valores cobrados indevidamente. Para isso, ele deve entrar em
contato com a entidade responsável que recebeu as quantias descontadas (cujo
telefone é informado no contracheque do beneficiário). Se preferir, o
interessado também pode enviar e-mail para o endereço
eletrônico acordo.mensalidade@inss.gov.br, informando o ocorrido.
Por
Correio24horas