Foto: Guilherme Cunha / Alerj
A disputa imobiliária em área dominada pela milícia, pode não ter sido a
única motivação para a morte da vereadora Marielle Franco. A Polícia Federal (PF)
investiga se outros fatores teriam feito a família Brazão encomendar a execução
da vereadora.
De acordo com a PF, a animosidade de Chiquinho e Domingos Brazão com políticos
do PSol teve início ainda no período em que os dois irmãos estavam no PMDB
[atual MDB]. Entre 2007 e 2018, quando o partido comandou a Prefeitura e o
governo do Rio de Janeiro, enfrentando a forte oposição do PSol. As informações
são do portal Metrópoles, parceiro do Bahia Notícias.
“A profunda carga ideológica, marca da legenda, faz-se perceber na
atuação política intensa e combativa de alguns de seus correligionários”, diz o
relatório da PF.
Um dos momentos de embate citados por Lessa foi o período da CPI das Milícias,
presidida pelo então deputado estadual do PSol Marcelo Freixo, de quem Marielle
foi assessora. A PF observa que a investigação “revelou a perigosa relação
entre o crime organizado e a política carioca, identificando vereadores e
deputados estaduais que lideravam grupos paramilitares desta natureza”.
A PF prosseguiu: “As interações da família Brazão com tais grupos recaem na
Comunidade de Rio das Pedras, berço da milícia no Rio de Janeiro, e se alastram
para outras localidades situadas na região de Jacarepaguá, Zona Oeste,
notadamente Osvaldo Cruz. Destarte, trazer à luz tais relações promíscuas gerou
a esperada revolta dos agentes públicos indiciados ou mencionados no Relatório
Final da CPI, o que não foi diferente com os irmãos Brazão”.
A oposição do PSol à nomeação de Domingos Brazão para o cargo de conselheiro do
Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro também despertou a ira dos dois
irmãos, segundo Lessa. Além de apontar a incapacidade de Domingos para ocupar o
cargo – que seria reservado a um servidor de carreira do órgão –, a bancada do
PSol na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) alegou que não teriam
sido respeitados os procedimentos formais para a nomeação e ameaçou levar o
caso à Justiça.
Em outubro de 2017, Marielle publicou em suas redes sociais um vídeo no qual
Marcelo Freixo atacava o então deputado Flávio Bolsonaro por ter votado a favor
da indicação de Domingos Brazão para o TCE-RJ. Em novembro, outro deputado do
PMDB, Edson Albertassi, foi nomeado para o órgão. Dessa vez, Marcelo Freixo
conseguiu liminar na Justiça para suspender a nomeação.
No dia seguinte à concessão da liminar, a PF deflagrou a Operação Cadeia Velha,
um desdobramento da Operação Lava Jato, que prendeu Albertassi, Jorge Picciani
e Paulo Melo, todos deputados do PMDB, próximos aos Brazão. Os três acabaram
condenados por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Investigadores da PF acreditam que os Brazão possam ter atingido Marielle com
objetivo de intimidar Freixo, que seria um alvo mais difícil por andar com
escolta armada desde os tempos da CPI das Milícias.
Segundo a PF, os Brazão atribuem a Freixo o pedido de liminar para suspender a
nomeação e impedir que a investigação da Cadeia Velha fosse remetida ao Supremo
Tribunal Federal (STF). O incidente serviu para aprofundar a animosidade entre
os irmãos e o PSol.
Nesses dois casos, Marielle Franco atuou na mobilização social contra o PMDB. A
decisão da família Brazão pela morte da vereadora teria sido influenciada pelas
informações passadas por Laerte Lima da Silva, infiltrado pelo grupo nas
fileiras do PSol.
“Ronnie Lessa relatou que foi durante a primeira reunião com os irmãos Brazão,
por volta de setembro de 2017, ocasião em que restou acertada a execução de
Marielle Franco, que surgiram as primeiras falas sobre a motivação do crime,
que dão conta de que a vítima teria sido posta como um obstáculo aos interesses
dos irmãos, sendo certo que tal percepção decorreria de informações oriundas de
Laerte Lima da Silva”, diz o relatório da PF.
“O colaborador [Lessa] narrou que Domingos Brazão passou a ser mais específico
sobre os obstáculos que a vereadora [Marielle] poderia representar. São feitas
referências a reuniões que a vereadora teria mantido com lideranças
comunitárias da região das Vargens, na Zona Oeste Rio de Janeiro, para tratar
de questões relativas a loteamentos de milícia. Então, mencionou-se que, por
conta de alguma animosidade, haveria um interesse especial da vereadora em
efetuar este combate nas áreas de influência dos Brazão, dado que seria oriundo
das ações de infiltração de Laerte”, apontou a investigação.
De acordo com a PF, Ronnie Lessa cogitou a possibilidade de Laerte Lima
ter “’enfeitado o pavão’, levando os irmãos ao equivocado superdimensionamento
das ações políticas de Marielle Franco nesta seara”.
Dessa forma, a partir das declarações prestadas por Lessa, a PF concluiu que a
motivação para a morte de Marielle teria decorrido de duas questões decisivas.
A primeira, a animosidade dos Brazão com relação a integrantes do PSol. Em
seguida, a atuação da vereadora “junto a moradores de comunidades dominadas por
milícias, notadamente no tocante à exploração da terra e aos loteamentos
ilegais”.
Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil
do Estado do Rio de Janeiro, foram presos no domingo (24) e transferidos para
presídios federais na quarta-feira (27).
Por Bahia
Notícias