
Foto: Antonio Cruz / Agência
Brasil
A cúpula da Câmara avisou ao
governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que a MP (medida provisória) de alta de
impostos não deve avançar no Congresso se não houver uma mudança de rota do
Palácio do Planalto com a apresentação de outras medidas de corte de despesas.
Passados mais de cinco meses
do ano, há descontentamento com o que deputados consideram baixa execução do
Orçamento, não só de emendas parlamentares. O diagnóstico é de que o governo
enfrenta um quadro de descoordenação, com ministros batendo cabeça e que
precisa ser mais ágil na liberação de recursos.
Após a edição da MP, na noite
de quarta-feira (11), empresários de setores da economia real estão procurando
o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e outras lideranças da
Casa para que a proposta seja ignorada. Antes mesmo do envio da MP, aliados de
Motta já indicavam que a medida seria natimorta.
Uma nova frente de desgaste
com as empresas foi a inclusão pelo Ministério da Fazenda de uma medida para
restringir as compensações de créditos tributários. A Receita Federal considera
a medida importante para o combate de compensações fraudulentas, enquanto
tributaristas falam que as restrições, se mantidas, violam o direito
constitucional do contribuinte e vão acabar gerando muitas disputas judiciais.
A estratégia da cúpula da
Câmara será segurar a MP até que o governo entregue propostas de corte de
despesas.
Na proposta enviada, o governo
incluiu cinco medidas do lado das despesas. Segundo auxiliares do presidente
Lula, a de maior impacto é a que inclui gastos com programas de bolsas para
manter alunos de ensino médio na escola pública, como o Pé-de-Meia, no cálculo
para o piso constitucional de investimentos na educação. Na prática, ao
contemplar no mínimo constitucional os gastos do programa, que são de R$ 12
bilhões neste ano, abre-se espaço fiscal.
Para o governo, essas cinco
medidas representam uma nova rodada de revisão de despesas para reduzir a
pressão sobre o arcabouço fiscal. A expectativa é a de que o Congresso dê
consequência ao discurso de necessidade de controlar a despesa e aproveite as cinco
medidas.
Desde antes da reunião com
líderes do Congresso e ministros do governo no domingo (8), parlamentares
descartavam um aval automático às medidas do Executivo e cobravam de
integrantes do governo uma sinalização de cortes de despesas.
Na prática, nas palavras de
uma liderança do centrão, será dado novamente ao governo um prazo informal de
duas semanas para que sejam apresentadas medidas concretas dessa revisão dos
gastos.
Isso porque o Congresso tende
a ficar esvaziado nos próximos dias, com feriado na próxima semana e as festas
de São João (quando grande parte dos parlamentares, sobretudo do Nordeste,
ficam em seus estados para acompanhar as festividades).
Nesse meio-tempo, entrará na
pauta do plenário na segunda (16) um requerimento de urgência de proposta que
derruba o novo decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) publicado
pelo governo na quarta, em mais um gesto dos parlamentares de pressão sobre o
Executivo acerca do tema. O pedido não inclui o primeiro decreto que elevou o
imposto, mas os congressistas ainda podem modificar o texto.
O líder do governo na Câmara,
José Guimarães (PT-CE), classificou esse movimento como um "erro".
"Ainda que seja só a
urgência do PDL [projeto de decreto legislativo] sem compromisso com o mérito
sobre o novo IOF, considero um erro e uma mensagem ruim para o país. Nós
precisamos de união para enfrentarmos os desafios fiscais necessários para sustentar
nosso crescimento econômico", escreveu nas redes sociais na manhã desta
quinta.
Parlamentares governistas
dizem enxergar como o real motivo dessas queixas a baixa execução das emendas
parlamentares, gerando um "clima hostil" na Casa, sobretudo entre
deputados do baixo clero (grupo sem projeção nacional) --e por se tratar de ano
pré-eleitoral.
Além disso, um despacho do
ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), na terça (10), no
âmbito de ação que trata desses recursos gerou nova contrariedade entre os
congressistas, que dizem enxergar participação de membros do Executivo nas medidas
tomadas pelo ministro.
Diante da crescente
insatisfação, a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações
Institucionais) tentou colocar panos quentes na situação e sinalizou ao
Parlamento ao negar problemas na execução das emendas, afirmar que o governo
esclareceria isso ao ministro do Supremo e afirmar que os recursos começariam a
ser liberados no fim desta semana.
Integrantes do governo
manifestaram desconforto com os posicionamentos de Motta e parte das lideranças
do Congresso Nacional sobre as medidas propostas, após o presidente da Câmara
ter classificado como histórica a reunião no domingo em que as medidas foram
apresentadas à cúpula do Congresso.
Um governista diz que enxerga
nessas declarações de Motta uma maneira de ele conter a pressão que recebe dos
parlamentares, mas avalia que elas foram "fora do tom". Já um aliado
do presidente da Câmara afirma que a conduta de Motta não agrada nem a um lado,
nem a outro, referindo-se ao governo e ao Parlamento. Ele avalia que essa
postura desgasta a figura do deputado e que ele precisa alterar a conduta dos
trabalhos à frente da Câmara.
Para aliados de Motta, também
houve um erro na comunicação na entrevista coletiva, ao não esclarecer que a
sua fala não se referia a um acordo com o ministro em torno das medidas.
Entre alguns analistas do
mercado financeiro, ouvidos pela reportagem na condição de anonimato, há uma
frustração com a postura de Motta em relação ao consideram um movimento
titubeante no apoio à medidas mais estruturantes.
Por Bahia Notícias