
Foto: Carlos Moura/SCO/STF
O ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal
Federal), dará o voto da retomada prevista para esta quarta-feira (3) do
julgamento das ações que discutem a responsabilidade das redes sociais.
A expectativa é que o magistrado abra uma terceira
corrente, com um voto mais favorável às big techs. Mendonça tem uma posição de
defesa da liberdade de expressão e se preocupa com possíveis excessos da
decisão da corte.
O julgamento foi suspenso em dezembro após um pedido de
vista -mais tempo para reflexão- de Mendonça, que devolveu a matéria ao
plenário no último dia 26. Na quarta (28), o presidente da corte, ministro Luís
Roberto Barroso, definiu a data para o retorno do tema à discussão.
Até o momento, há três votos, dos relatores dos dois
recursos (Dias Toffoli e Luiz Fux) e de Barroso, que pediu a primeira vista e
abriu divergência. Os dois primeiros ficam numa ponta, impondo mais regras às
empresas, enquanto Barroso apresentou proposta mais moderada.
Os relatores estabelecem deveres extras para as plataformas
e, como nova regra geral, que as empresas passem a ser responsabilizadas a
partir do momento em que forem notificadas.
Barroso, por sua vez, defendeu que o artigo 19 do Marco
Civil da Internet, em discussão, é insuficiente para o cenário atual, que
demandaria regulação, mas não deve ser derrubado por completo. Em casos de
ofensas e crimes contra a honra, segundo ele, a necessidade de decisão judicial
prévia deve continuar valendo.
Mendonça deve, portanto, ter um voto mais próximo ao texto
vigente e defender que as plataformas já mantêm o que é conhecido como
blocklist, ou seja, as listas de conteúdos maliciosos, hostis ou que de alguma
maneira afetem negativamente os usuários de internet.
Além de Mendonça, faltam votar Flávio Dino, Cristiano
Zanin, Kassio Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Cármen Lúcia e
o decano Gilmar Mendes.
O Marco Civil da internet é uma lei de 2014 que estabelece
direitos e deveres para o uso da internet no país. À época, o artigo 19 foi
aprovado sob o argumento de assegurar a liberdade de expressão. O objetivo era
evitar que as redes removessem conteúdos em excesso por medo de serem
responsabilizadas.
O trecho em debate pela corte prevê que as big techs só
possam ser responsabilizadas por publicações de terceiros, pagando
indenizações, se não agirem após decisão judicial, com exceção de casos de
violação de direitos autorais e imagens de nudez não consentidas.
O clima no Supremo é favorável a estabelecer limites às
redes. No entanto, o número de variáveis colocadas no debate deve dificultar a
construção da tese sobre o assunto.
O decano comentou o tema nesta segunda-feira (2). Gilmar
Mendes afirmou que o julgamento "pode significar, pelo menos, um esboço de
regulação da mídia social".
Em um discurso duro, o ministro afirmou que a manutenção do
status quo perpetua "um regime de irresponsabilidade" que permite às
plataformas "exercerem poder quase que soberano sobre o discurso público
sem qualquer supervisão democrática".
Ainda que apenas três ministros tenham votado até o
momento, outros ministros têm feito comentários ao longo das sessões, no geral
com críticas às big techs.
O ministro Flávio Dino, por exemplo, entende que o sistema
legal instituído pelo marco não permanecerá nos mesmos termos. "Isso para
mim é uma certeza aritmética", disse durante evento promovido pela revista
Piauí.
Na ocasião, ele indicou que vai propor alguns elementos
diferentes daqueles já apresentado pelos colegas em plenário. Na visão de Dino,
hoje a quantidade de publicações feitas significa que a danosidade produzida
pelas redes sociais é, também, maior que em 2014, quando o texto da lei foi
concluído.
Os argumentos a respeito dos riscos à liberdade de
expressão não são, para o ministro, sustentáveis na medida em que todos os
setores da economia e da vida são regulados.
O ministro Alexandre de Moraes também deve dar um voto com
mais obrigações às empresas e num sentido oposto ao de Mendonça. Relator do
inquérito das fake news, o magistrado lida com o tema desde 2019.
O ministro tem se dedicado ao tema também fora do STF. Em
meio a embates com grandes empresas de tecnologia, ele fez um discurso de cerca
de 40 minutos aos novos alunos da Faculdade de Direito da USP em fevereiro com
várias críticas às big techs.
"Elas não são neutras. São grupos econômicos que
querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras, ignorando
a soberania nacional de cada país, ignorando legislações, para terem poder e
lucro", afirmou.
Por Bahia
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