
Foto: FMI Staff Photograph/Stephen Jaffe
O FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu a previsão de
crescimento da maioria dos países depois de o presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, deflagrar um embate comercial com o mundo.
O Brasil, que antes tinha a perspectiva de crescer 2,2 % em
2025 e em 2026 perdeu 0,2 ponto percentual e agora deve ter uma expansão
projetada de 2%. O país acaba sendo um dos menos afetados se comparado às
previsões para China, EUA e outras nações.
Os dados constam no relatório Perspectivas Econômicas
Mundiais de abril, que foram revisados em comparação ao mesmo documento lançado
em janeiro deste ano.
O FMI previa um crescimento global de 3,3% em 2025 e 2026 e
agora reduziu esse índice para 2,8% em 2025 e 3% em 2026. O documento aponta
como uma prioridade restaurar a estabilidade da política comercial.
"Estamos entrando em uma nova era, pois o sistema
econômico global que operou nos últimos 80 anos está sendo reconfigurado",
afirmou Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI, nesta terça (22), a
respeito das medidas lançadas por Trump.
O documento do FMI aponta que as tarifas terão um impacto
"a níveis não vistos em um século".
Os EUA serão fortemente afetados, de acordo com o fundo. As
projeções de crescimento do país norte-americano para 2024 é de 1,8%, 0,9 a
menos do que os 2,7% previstos em janeiro. A inflação nos EUA, por sua vez, tem
uma projeção de alta.
Pierre afirma que a economia americana já vinha passando por
uma desaceleração e que, por isso, cerca de 0,4 pontos percentuais dos 0,9 de
redução projetada teriam relação com as tarifas. O economista descarta, porém,
que se trate de uma recessão já nos EUA, mas de um aumento para 40% de risco de
que ocorra esse cenário.
"Estamos projetando que o crescimento será de 1,8% em
2025, o que representa uma revisão de desaceleração de 0,9 ponto percentual em
nossas projeções de janeiro. Mas 1,9% obviamente não é uma recessão. E a razão
para isso é que temos uma economia dos EUA que, em nossa visão, vem de uma
posição de força", explicou.
Já a China teve sua perspectiva de crescimento para 2025
revisada de 4,6% para 4%, 0,6 ponto percentual inferior.
O economista disse que, como foi observado durante a
epidemia, o cenário gera um choque nas taxas de câmbio, o que amplia o risco
para a economia global. "Os riscos para a economia global aumentaram e
estão firmemente voltados para baixo. Uma escalada das tensões comerciais
deprimiria ainda mais o crescimento."
Ao mesmo tempo, ele sugere que os países abordem os
"desequilíbrios domésticos" e suas próprias posturas comerciais para
promover um ambiente comercial "mais claro e estável".
"Para a Europa, isso significa gastar mais em
infraestrutura pública para acelerar o crescimento da produtividade. Para a
China, significa aumentar o apoio à demanda doméstica, enquanto para os EUA
significa intensificar a consolidação fiscal."
O fundo fez também uma estimativa prevendo a pausa da maioria
das tarifas anunciadas por Trump em 2 de abril e o aumento das sobretaxas
aplicadas à China. Mesmo com a suspensão temporária das alíquotas, a projeção
de crescimento seria parecida com a do cenário em que todas as tarifas ficam em
vigor.
"Esta pausa, mesmo se estendida permanentemente,
proporciona uma perspectiva de crescimento semelhante à nossa previsão de
referência de 2,8%", disse.
Após anunciar tarifas retaliatórias elevadas para cerca de 60
países, Trump anunciou pausa de 90 dias nas tarifas para todos os principais
parceiros comerciais dos EUA, impondo a sobretaxa de 10%, enquanto ampliou para
145% as alíquotas sobre os produtos chineses.
O economista frisou que todas as regiões acabam sendo
impactadas negativamente, mesmo que algumas se beneficiem temporariamente das
divergências tarifárias, e que o processo de desinflação deve continuar, mas em
ritmo mais lento.
"A incerteza de exposição também aumenta devido às
complexas perturbações setoriais que as tarifas podem causar ao longo das
cadeias de suprimentos. Como vimos durante a pandemia, o efeito desses choques
nas taxas de câmbio é complexo", afirmou.
"Embora não estejamos projetando uma desaceleração
global, o risco de que isso possa acontecer este ano aumentou substancialmente
de 17% projetados em outubro para 30% agora", completou.
O FMI projetou ainda uma queda drástica no crescimento do
comércio global: de 3,8% em 2024 para 1,7% em 2025.
Por Bahia Notícias