Integrantes do alto escalão do PT na Bahia traduziram como ameaça velada a recente ofensiva do senador Ângelo Coronel (PSD) para liderar o grupo de dez deputados estaduais da base aliada insatisfeitos com o governador Jerônimo Rodrigues. Consultados pela Metropolítica, petistas com assento no andar de cima do partido se disseram convictos de que, por trás do movimento de Coronel, está a certeza de que será rifado da chapa governista para o Senado na sucessão de 2026. "Ao tomar para si o papel de porta-voz da turma dos descontentes na Assembleia Legislativa, o recado dele é claro: ou o PT engole na marra sua candidatura à reeleição no palanque do Palácio de Ondina ou colocará em xeque a governabilidade de Jerônimo", disparou um político influente da sigla, para quem a manobra possui os elementos típicos de chantagem.
Para bom entendedor...
O tom das declarações de Coronel após o encontro com o chamado G10 da Assembleia, realizado na segunda (03), reforçou a percepção de cardeais petistas sobre as reais intenções do senador. Em vídeo postado nas redes sociais, Coronel diz não ter dúvidas de que "o governo vai olhar agora com olhos mais abertos para esse grupo". Lembra ainda que o bloco é formado majoritariamente por deputados do PP e PL que, embora tenham marchado com a oposição em 2022, migraram para a base de Jerônimo desde fevereiro do ano passado. É o caso dos pepistas Hassan, Felipe Duarte, Nelson Leal e Antônio Henrique Júnior e de dois quadros do PL, Vitor Azevedo e Raimundinho da JR. Com o PSD, insinuou, a tropa sob seu controle na Assembleia pode a chegar 20 parlamentares, quase metade da bancada governista, composta por 42 membros.
Lavoura arcaica
"A mensagem de Coronel com essa operação é a de que ele terá número suficiente de deputados para emparedar o governo em votações de projetos importantes e pretende usar tal trunfo como instrumento de pressão no duelo por uma das duas vagas do Senado em 2026. Nada mais que a boa e velha tática de plantar dificuldade para colher facilidade", emendou outro petista com poder de fogo na Executiva Estadual do partido. O jogo de Coronel vai também ao encontro dos anseios de parlamentares que estavam sem um nome de peso para defender seus interesses junto ao governador.
Prova de História
Em contrapartida, aliados do senador acham que ele não acrescentou os riscos da investida no cálculo. O retrospecto mostra que iniciativas semelhantes de peitar o PT resultaram em fracasso. Entre os exemplos, destacam o ex-presidente da Assembleia Marcelo Nilo (Republicanos), o ex-vice-governador e deputado federal João Leão (PP) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB). Todos eles esticaram a corda para forçar espaço na chapa majoritária da base aliada, cortaram laços com o governo e, no fim, saíram do confronto menor do que entraram. Ao mesmo tempo, afirmam, Coronel parece ter esquecido de que possui uma cota generosa em contratos com o Executivo e de que os deputados dependem bastante da máquina do estado para sobreviver politicamente.
Régua e compasso
Para lideranças do arco governista, a ação de Ângelo Coronel só avançou por causa do desleixo da articulação política de Jerônimo e do próprio petista. Ambos ignoraram as sucessivas queixas de parlamentares do G10 e abriram a brecha para o cacique do PSD. Ciente de que Jaques Wagner (PT) é dono de uma das vagas do Senado e que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, pretende ocupar a outra, Coronel decidiu usar o grupo de deputados como munição. A dúvida é se ele teve aval do senador Otto Alencar (PSD), embora a avaliação é de que o primeiro jamais entraria em campo sem combinar antes com o segundo.
Torta de climão
Pela primeira vez desde que viraram desafetos, o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil) e o presidente estadual do PL, João Roma, dividiram o mesmo palanque na tarde de segunda-feira (03), durante o lançamento da pré-candidatura à reeleição de Bruno Reis em Salvador. Apesar da unidade em torno do prefeito, nenhum dos dois demonstrou qualquer disposição em passar a borracha no passado e enterrar as rusgas que levaram ao rompimento de uma relação com mais de 20 anos. O único gesto de cordialidade ocorreu no começo do discurso de Neto, quando ele citou de modo protocolar a presença de Roma, de quem se afastou em fevereiro de 2021, após o então amigo de fé aceitar o cargo de ministro da Cidadania do governo Jair Bolsonaro (PL).
De volta para o futuro
No evento com dirigentes dos 13 partidos que fecharam apoio a ele na sucessão deste ano, Bruno Reis até que tentou dar um verniz de novidade ao anunciar a reprise da dobradinha com a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT). Entretanto, a escolha já havia sido antecipada pela coluna em 16 de maio. Para completar, o prefeito apagou 2016 da memória ao sacar um clichê para justificar a decisão. Em suma, o de que não se mexe em time que está ganhando. Há oito anos, o time de ACM Neto também estava ganhando. Mesmo assim, a vice dele em 2012, Célia Sacramento, foi substituída por Bruno sem maiores explicações.
Mais do mesmo
Do lado contrário da corda, o comando da pré-campanha de Geraldo Jr. (MDB) terminou a segunda sem definir a parceira do emedebista na corrida pela prefeitura da capital. Na bolsa de apostas, a secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Fabya Reis (PT), lidera o páreo com folga. Porém, ninguém descarta uma reviravolta antes da próxima quinta-feira (06), quando o emedebista lançará a pré-candidatura.
Redução de danos
Oitavo participante da série de sabatinas da Rádio Metropole com os vereadores de Salvador, Cláudio Tinoco (União Brasil) revelou um dado curioso sobre o projeto de lei que desafetou 40 terrenos do município, incluindo a polêmica área verde no Corredor da Vitória. Favorável à proposta, Tinoco disse na noite de segunda que, graças a emendas apresentadas por ele, a prefeitura suprimiu mais de 60 mil m² do texto originalmente enviado à Câmara e enxugou a relação de imóveis a serem leiloados.
Check-list
Líder da maioria na Câmara dos Deputados e presidente interino do PDT, o cearense André Figueiredo convocou a bancada do partido em Brasília para uma reunião nesta terça-feira (04), com o objetivo de discutir a adesão dos pedetistas a Elmar Nascimento (União Brasil) na corrida pelo comando da Casa em 2025. O apoio é resultado do esforço pessoal do deputado federal Félix Mendonça Júnior, dirigente estadual do PDT, que conseguiu unificar a legenda em relação à candidatura do parlamentar baiano. O encontro servirá para avaliar os diferentes cenários sobre a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) e checar se a tendência de voto em Elmar continua de pé.
Foto: Tácio Moreira/Metropress